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por Moema Ameom
“Em vinte anos, Tautin foi apunhalado 16.302 vezes. Mary foi preso 11.000 vezes. Mademoiselle Dupuis Foi 75 000 vezes seduzida, raptada ou afogada”... No Século XIX, era isso que tinham de suportar os atores durante os melodramas (*), que levavam ao palco histórias terríveis que encantavam o grande público. Na sala de espetáculos, os espectadores se desfaziam em lágrimas, maldiziam os perversos ou morriam de medo! Esse gênero teatral, desprezado pelos amantes do teatro clássico, fascinou alguns jovens autores, como Victor Hugo, Alexandre Dumas, Alfred de Musset. Assim nasceu o romântico, que igualmente provocou um escândalo: algumas apresentações terminavam em pancadaria.
Fonte: texto extraído do livro “O Teatro no Mundo” Editora Melhoramentos, pag.22
Quais os atrativos do drama? Por que a humanidade prioriza esta sensação?Será devido aos estímulos mais intensos que ela produz no organismo? Ou será devido ao vício adquirido pelo Corpo Físico de funcionar embebido em adrenalina?
Seja lá como ou porque seja, o fato é que as sensações de prazer só surtem efeito quando surgem depois de muito estresse. Caso contrário felicidade, alegria, prazer parece ter um gosto insípto para a grande maioria dos seres humanos. Primeiro cultiva-se a dor, a doença, o mal estar, a irritação; leva-se o organismo aos píncaros do limite para depois buscar o caminho do deságüe, da solução, da tranqüilidade e da paz. A endorfina, acompanhada da serotonina e oxitocina, não causam sensações espetaculares. Não crescem a audiência. Não dão IBOPE.
Curiosidades aparte acredito que a educação, ou a história percorrida, tenha levado o melodrama a fazer mais sucesso ganhado mais aplausos da sociedade. Acostumou-se a ver sofrimento como diversão. Hoje, não mais em praça pública, mas acomodado dentro de casa, o público busca seu sofrimento diário diante da TV. Seja no Tele Jornal, na dramaturgia novelesca, nos desenhos animados, nos filmes em série, o sofrimento conduz os humanos a ondas emocionais que desanuviam as tensões do dia a dia. Ou seja, intensifica-se a tensão para que o estresse possa transformar-se em fluxo vital. O mais grave nesta brincadeira de mau gosto é que os Sistemas viciam-se de tal forma neste jogo desvitalizante que perdem a consciência de sua sabedoria interna, autônoma feita para construir uma vida prazerosa. Produz-se guerra em nome da paz.
Estamos necessitando de novos dramaturgos capazes de mostrar ao grande público um novo caminho de ilusão, caso contrário, daqui a pouco, bem pouco tempo, não teremos mais nem platéia para aplaudir os (in)sucessos. Nem mesmo poderemos manter esta cultura de Século XIX acreditando que estamos evoluindo.
Que tal deixarmos de olhar para nossa cultura regional como sendo de pouca importância? Nossos índios, há séculos, denominavam este território, hoje brasileiro, de “Pindorama – terra sem males”. Enquanto na Europa o sucesso era o melodrama, aqui as danças, os cânticos, as brincadeiras, ganhavam muitos aplausos.
Que tal ReConhecermos este caminho como sendo nosso?
(*) Drama popular originado das confusões da Revolução Francesa e das guerras.
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