segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Crítica e a Verdade


Moema Ameom

No último trabalho de Preparação Corporal com o grupo de bailarinos da montagem Orfeu, falei sobre a importância de se estar seguro nas expressões internas para que a arte possa ser vivida plenamente. Agradar a si próprio antes de imaginar ser capaz de agradar ao próximo. Extrair das ações / reações provenientes dos movimentos vitais inerentes à representação artística, a verdade nelas inseridas pelas emoções. Conscientizá-las no corpo para ser capaz de conviver com os desequilíbrios que trazem a fim de podermos encontrar o equilíbrio psicossomático.

Ainda reverenciando minha avó, transcrevo trechos de críticas que exemplificam o que coloquei em nosso encontro.

A estréia de Céo da Câmara – [...] ou a Sra. Céo da Câmara é uma dissimulada, ou então os graves defeitos de sua educação artística, são daqueles que não se corrijem mais [...] Se uma vocação artística como a Sra. Céo da Câmara, depois de retocada pelo Conservatório de Múzica e pela Escola Dramática, assim se aprezenta cheia dos mais graves defeitos, é que essas duas falharam por completo para os fins a que se destinam. [...] – Coluna “Pelos Teatros pelos Cinemas” assinada por Zando - Jornal A Folha em 19/3/1920

Em resposta minha avó escreveu:

“Ilmo. Sr. Redator de “A Folha” – Rio – acabo de ler no seu conceituado jornal de hoje, uma crítica, antecipada, sobre meus méritos de artista dramática e cantora. Enquanto ao valor da minha individualidade artística, nada direi, pois a crítica, sincera ou não, é sempre livre, mesmo quando Ella, como agora, é antecipada; porém, enquanto ás apreciações do Sr. Zando sobre a Escola Dramática e o Instituto Nacional de Música, não posso nem devo silenciar, razão por que lhe scientifico que não tenho curso da Escola Dramática, que freqüentei apenas 2 anos e que nunca freqüentei siquer o Instituto Nacional de Música. O pouco ou quase nada que sei de canto, estudei-o com a grande artista e conhecida professora Mme. Stinco Palermini. [...] De V.Ex. com muita consideração, Céo da Câmara, atriz, cantora e brasileira. – 20/3/1920

No dia da estréia a crítica que saiu no Jornal do Brasil dizia:

[...] Fallemos da estreante Céo da Câmara que, aos 17 anos e pela primeira vez que pisa o palco teve que arcar com a responsabilidade de um grande e difícil papel. [...] A sra. Céo da Câmara tem realmente muito valor. Se não fora isso hontem ter-se-ia registrado um grande desastre, de que talvez nunca mais deixasse de sofrer as conseqüências. [...] Possue a estreante, como sua maior qualidade, a faculdade de emocionar-se e transmitir a emoção, qualquer que ella seja. É, em synthese, uma actriz não porque tenha aprendidp a ser, mas por vocação natural, innata[...].”-M.N.

A peça em questão era A Estrela D’Alva – opereta em dois atos do Dr. Mario Monteiro música de Francisca Gonzaga, encenada no Teatro Recreio – RJ. A personagem (central) – moleirinha Rozinha

Será que realmente conseguiu não sofrer as conseqüências deste fato? O esforço causado pelo seu corpo, onde a hipotonicidade predominava, para suportar a potência da verdade existente em seu coração, certamente a fez guardar sensações muito desagradáveis em sua cognição. Estes processos estressantes causaram-lhe desestruturas psicossomáticas tão intensas que acabaram por lhe acarretar sérias doenças.

Pela minha experiência como pessoa / profissional, posso testemunhar que, quando o Sistema não se encontra em equilíbrio dentro das ondas emocionais, o resultado conduz sempre para a inconsciência dos fatos, a sublimação das emoções e ao fortalecimento do Corpo Etéreo em detrimento da utilização do Corpo Físico como instrumento da potência vital revitalizada constantemente pelo Corpo Ósseo. Sendo o CF o responsável pela saúde do Sistema, será sempre nele que a harmonização ganhará um padrão vibracional de qualidade onde o ajuste tonal gera harmonia e paz.

Mais uma vez ressalto que mantive a identidade ortográfica dos textos extraídos do Album no.1 que meu avô Annibal fez com recortes da trajetória artística de minha avó.

Todo o material foi cedido em 2010 para o Sr. Leonardo Simões que com eles construiu sua tese de mestrado na UNIRIO com o título “Céo da Câmara – o relicário de uma atriz da primeira metade do século XX.”

“A imagem de Céo é refletida em três aspectos que se entrelaçam em sua existência, e que sobressaem dos álbuns como três relações intensamente amorosas: com a Família; com a Arte; e com a Pátria.” – L.B.

Par quem quiser saber mais sobre minha querida avó: http://www.seer.unirio.br/index.php/pesqcenicas/article/viewFile/736/673

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