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Moema Ameom
O título deste texto não copiei da série da TVGlobo mas sim de um artigo assinado por Cynara Menezes na revista Veja de 2004, edição número 1877.
Extraí o título e a emoção que de mim se apossou quando a atenção fixou meu coração no seguinte trecho:
“As mulheres brasileiras são muito vaidosas. Entre as suas prioridades, está a de “conquistar tempo para cuidar da aparência”. A obsessão das brasileiras pelo físico fica ainda mais evidente quando se examinam dados de uma pesquisa encomendada pela Unilever e conduzida pela psicóloga Nancy Etcoff, da Universidade Harvard, e Susie Obach, da Londom School of Economics. Dos doze países investigados, entre eles Estados Unidos, Inglatera e França. O Brasil desponta como aquele em que as mulheres declaram estar mais preocupadas em ter um rosto bonito, a pele bem cuidada, o corpo em forma e uma imagem sexy. É também o país campeão em consumo de produtos para unhas, tintura de cabelos e hidratantes para o corpo. Outro número que impressiona: nada menos do que 58% das brasileiras afirmam que, caso a cirurgia plástica fosse gratuita, recorreriam imediatamente ao bisturi. “Considero este dado chocante. A preocupação com a aparência é tão importante para as brasileiras que a cirurgia plástica virou parte do cotidiano” diz Susie Orbach. Compreende-se, assim, por que o Brasil se tornou o segundo país do mudo em números de plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos, onde as mulheres têm renda catorze vezes maior que as brasileiras. Este excesso de preocupação provoca um efeito colateral muito incômodo para as mulheres brasileiras. Segundo revela a pesquisa, elas vivem queixosas em relação ao que vêm no espelho. Apenas 2% dizem achar-se bonita, só ficando atrás para o Japão neste quesito.”
Foram tantas as ondas percorridas que apenas agora, depois de uma semana, consigo organizar palavras para escrever sobre tristezas e questionamentos.
O que será que conduz a palavra vaidade para uma relação tão estreita com a estética?
Vaidade pode fazer relação com o cuidado interno voltado à saúde orgânica? À liberdade para viver o tempo de Kairós, aquele que regula as sensações relativas ao real pulsar visceral? À percepção do aprendizado colhido a cada momento vivenciado com seu próprio corpo, único pertence verdadeiro da existência?
Ser vaidosa pode ser olhar-se diante do espelho observando as marcas do tempo, onde a sabedoria e o conhecimento mesclam-se para fazerem surgir expressões que sinalizam amadurecimento?
Remeto-me às índias do nosso país miscigenado etnicamente onde cada tribo possuía [1] características tão distintas; onde a diferenciação das mesmas era sinalizada principalmente nas pinturas do corpo, adereços e enfeites.
A vaidade maior – Orgulho - era preservar a linguagem tribal. Surgia quando mostravam o corpo onde se podia ler a cultura de seu povo. Espelho? As águas dos rios e mares que por serem móveis não permitiam a estagnação da visão (onde mora o julgamento).
Olhar para a companheira de tribo significava olhar para si mesma, para sua emanação epitelial. Umas pintavam as outras e a concorrência acontecia pautada no que emanavam de seu interior.Era esta emanação que atraía o macho. Ficava fácil descobrir a energia que combinava e complementava.
Qual o valor deste tipo de vaidade?
A estética da mesma foi denegrida, dizimada, desvalorizada ao extremo, considerada pecado. Cobriram-se os corpos, vestiram-nos com trapos e farrapos para que pudessem perder a beleza, a fim de não incomodar os senhores feudais. Como poderiam os colonizadores imaturos em suas redes emocionais dominar e controlar tal povo?
A imaturidade surgida pela dificuldade de perceber em profundidade as sensações corpóreas, instalava-se no medo de sentir o medo, proibido para corações valentes. Porém como controlar emoções? Elas surgiam incomodativas, teimando em cutucá-los por baixos das roupas fétidas que estavam acostumados a portar e a ver como sendo componente de estética perfeita.
Depois de alguns anos de mu(a)ta.(a)ção a nudez brasileira passou a ser comércio para o exterior, onde a visão das mulatas seminuas sambando faz sucesso nos instintos masculinos e femininos. Instigam. Fascinam. Aguçam a capacidade de imaginar o proibido.
É primordial vender a imagem de uma “brasileira gostosa”. Apetitosa. Banquete para ser servido aos reis.
Repetição da escravatura? Mas as escravas estavam mal vestidas, desgrenhadas, fedidas, por que será que tanto atraíam os senhores das fazendas? Qual a magia que ganhava de longe os perfumes franceses usados pelas sinhás?
Esta magia auxiliou e muito na formação deste povo brasileiro de hoje, ainda mais miscigenado, que corre atrás das parafernálias cosméticas criadas lá fora, produzidas e vendidas aqui sob o manto do marketing.
Mais uma vez para enriquecer os bolsos e os olhos de quem aprendeu em sua própria terra a não enxergar o essencial. “O que os olhos não vêm o coração não sente”. Quem muito sofre com perdas, não ganha renovação.
É interessante saber um pouco sobre a Unilever - Uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo, fabricante de produtos de higiene pessoal e limpeza, alimentos e sorvetes, com operações em mais de 100 países, a Unilever completou, em 2009, 80 anos de atuação no Brasil. Presente em 100% dos lares brasileiros ao longo de um ano, seus produtos atingem, mensalmente, 86% dos domicílios, ou seja, cerca de 37 milhões. . A história da Unilever começou no século XIX, na Inglaterra. William Hesketh Lever – fundador da Empresa teve uma idéia original e muito bem aceita: dar nome e embalagens individuais aos sabões que fabricava. [http://www.unilever.com.br]
Com que intuito esta empresa buscou fazer esta pesquisa?
O que está fazendo com os resultados obtidos?
Algumas perguntas que não querem calar. Você pode me ajudar a respondê-las?
[1] Estimativas da população indígena na época do descobrimento apontam que existiam no território Brasileiro, mais de mil povos, sendo cinco milhões de indígenas. Hoje em dia, são 227 povos, e sua população está em torno de 400 mil. http://pt.wikipedia.org/wiki/Povos_ind%C3%ADgenas_do_Brasil#Exterm.C3.ADnio
Extraí o título e a emoção que de mim se apossou quando a atenção fixou meu coração no seguinte trecho:
“As mulheres brasileiras são muito vaidosas. Entre as suas prioridades, está a de “conquistar tempo para cuidar da aparência”. A obsessão das brasileiras pelo físico fica ainda mais evidente quando se examinam dados de uma pesquisa encomendada pela Unilever e conduzida pela psicóloga Nancy Etcoff, da Universidade Harvard, e Susie Obach, da Londom School of Economics. Dos doze países investigados, entre eles Estados Unidos, Inglatera e França. O Brasil desponta como aquele em que as mulheres declaram estar mais preocupadas em ter um rosto bonito, a pele bem cuidada, o corpo em forma e uma imagem sexy. É também o país campeão em consumo de produtos para unhas, tintura de cabelos e hidratantes para o corpo. Outro número que impressiona: nada menos do que 58% das brasileiras afirmam que, caso a cirurgia plástica fosse gratuita, recorreriam imediatamente ao bisturi. “Considero este dado chocante. A preocupação com a aparência é tão importante para as brasileiras que a cirurgia plástica virou parte do cotidiano” diz Susie Orbach. Compreende-se, assim, por que o Brasil se tornou o segundo país do mudo em números de plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos, onde as mulheres têm renda catorze vezes maior que as brasileiras. Este excesso de preocupação provoca um efeito colateral muito incômodo para as mulheres brasileiras. Segundo revela a pesquisa, elas vivem queixosas em relação ao que vêm no espelho. Apenas 2% dizem achar-se bonita, só ficando atrás para o Japão neste quesito.”
Foram tantas as ondas percorridas que apenas agora, depois de uma semana, consigo organizar palavras para escrever sobre tristezas e questionamentos.
O que será que conduz a palavra vaidade para uma relação tão estreita com a estética?
Vaidade pode fazer relação com o cuidado interno voltado à saúde orgânica? À liberdade para viver o tempo de Kairós, aquele que regula as sensações relativas ao real pulsar visceral? À percepção do aprendizado colhido a cada momento vivenciado com seu próprio corpo, único pertence verdadeiro da existência?
Ser vaidosa pode ser olhar-se diante do espelho observando as marcas do tempo, onde a sabedoria e o conhecimento mesclam-se para fazerem surgir expressões que sinalizam amadurecimento?
Remeto-me às índias do nosso país miscigenado etnicamente onde cada tribo possuía [1] características tão distintas; onde a diferenciação das mesmas era sinalizada principalmente nas pinturas do corpo, adereços e enfeites.
A vaidade maior – Orgulho - era preservar a linguagem tribal. Surgia quando mostravam o corpo onde se podia ler a cultura de seu povo. Espelho? As águas dos rios e mares que por serem móveis não permitiam a estagnação da visão (onde mora o julgamento).
Olhar para a companheira de tribo significava olhar para si mesma, para sua emanação epitelial. Umas pintavam as outras e a concorrência acontecia pautada no que emanavam de seu interior.Era esta emanação que atraía o macho. Ficava fácil descobrir a energia que combinava e complementava.
Qual o valor deste tipo de vaidade?
A estética da mesma foi denegrida, dizimada, desvalorizada ao extremo, considerada pecado. Cobriram-se os corpos, vestiram-nos com trapos e farrapos para que pudessem perder a beleza, a fim de não incomodar os senhores feudais. Como poderiam os colonizadores imaturos em suas redes emocionais dominar e controlar tal povo?
A imaturidade surgida pela dificuldade de perceber em profundidade as sensações corpóreas, instalava-se no medo de sentir o medo, proibido para corações valentes. Porém como controlar emoções? Elas surgiam incomodativas, teimando em cutucá-los por baixos das roupas fétidas que estavam acostumados a portar e a ver como sendo componente de estética perfeita.
Depois de alguns anos de mu(a)ta.(a)ção a nudez brasileira passou a ser comércio para o exterior, onde a visão das mulatas seminuas sambando faz sucesso nos instintos masculinos e femininos. Instigam. Fascinam. Aguçam a capacidade de imaginar o proibido.
É primordial vender a imagem de uma “brasileira gostosa”. Apetitosa. Banquete para ser servido aos reis.
Repetição da escravatura? Mas as escravas estavam mal vestidas, desgrenhadas, fedidas, por que será que tanto atraíam os senhores das fazendas? Qual a magia que ganhava de longe os perfumes franceses usados pelas sinhás?
Esta magia auxiliou e muito na formação deste povo brasileiro de hoje, ainda mais miscigenado, que corre atrás das parafernálias cosméticas criadas lá fora, produzidas e vendidas aqui sob o manto do marketing.
Mais uma vez para enriquecer os bolsos e os olhos de quem aprendeu em sua própria terra a não enxergar o essencial. “O que os olhos não vêm o coração não sente”. Quem muito sofre com perdas, não ganha renovação.
É interessante saber um pouco sobre a Unilever - Uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo, fabricante de produtos de higiene pessoal e limpeza, alimentos e sorvetes, com operações em mais de 100 países, a Unilever completou, em 2009, 80 anos de atuação no Brasil. Presente em 100% dos lares brasileiros ao longo de um ano, seus produtos atingem, mensalmente, 86% dos domicílios, ou seja, cerca de 37 milhões. . A história da Unilever começou no século XIX, na Inglaterra. William Hesketh Lever – fundador da Empresa teve uma idéia original e muito bem aceita: dar nome e embalagens individuais aos sabões que fabricava. [http://www.unilever.com.br]
Com que intuito esta empresa buscou fazer esta pesquisa?
O que está fazendo com os resultados obtidos?
Algumas perguntas que não querem calar. Você pode me ajudar a respondê-las?
[1] Estimativas da população indígena na época do descobrimento apontam que existiam no território Brasileiro, mais de mil povos, sendo cinco milhões de indígenas. Hoje em dia, são 227 povos, e sua população está em torno de 400 mil. http://pt.wikipedia.org/wiki/Povos_ind%C3%ADgenas_do_Brasil#Exterm.C3.ADnio
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