sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Boca de cocô



Por Moema Ameom

-“Ai..ai...ai....sua boca tá suja de cocô! Que feio! Fica já aí quietinha!”

Assim falava Lavínia, minha neta, para sua boneca colocando-a sentada na cadeira.

Eu observava atentamente sua brincadeira como sempre faço quando quero descobrir mistérios da vida.

-“Sua filha comeu cocô?” indago eu.
-“Não vó! Ela fala bobagens e morde os amiguinhos. Que feio,né?”

O silêncio faz-se meu companheiro. Penso. Como assim? De onde vem este ensinamento? Só pode ser da Escola.

Sendo as fezes o resultado de todo um processo de transformação do Corpo Físico, a que resultado emocional pode levar a conotação do coco com coisas feias, sujas, fedidas e porcas?
Lembro-me de estudo desenvolvido onde a relação coco e menstruação me foi sinalizado. Indo mais adiante, coco, menstruação e feto. Aprendi que problemas existentes com o ato de defecar nas meninas pode, no futuro, gerar tensões pré-menstruais intensas levando inclusive à negação da feminilidade se não houver bom acompanhamento. Dificulta a relação afetiva com o feto. Nos meninos pode conduzir às dificuldades de ereção. Ou seja, minimiza a procriação por enfraquecer a força criativa do organismo.

O que fazer, então com a boca suja de cocô?
O que fazer com a sabedoria que me sinaliza a profunda intercomunicação (via coluna vertebral) da boca com a vagina?

Sou avó. Sou sombra orientadora; não sou nem devo ser ação.

-“ Que tal conversar melhor com a sua filha sobre as maravilhas do cocô?” Questiono.

-“?” ... o olhar volta-se para mim abrindo um imenso portal de aprendizado.

Dou uma palestra sobre cocô com a boca cheia de prazer!

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