sábado, 19 de fevereiro de 2011

CIRC(S)ENSE


Moema Ameom

Neste círculo vital que circula in. mim, sou circense.

De senso em senso, sem censo, faço-me mágica, palhaça, malabarista, equilibrista, domadora, trapezista, engolidora de fogo, mestra da minha própria cerimônia.

Quando palhaça, crio a máscara mais convincente possível; aquela que estimula gargalhadas e sustos, com o intuito de camuflar os medos e esconder a inquietação do momento.
Sempre me pergunto o que estão sentindo (os outros) quando olham para a maquiagem escolhida. Fico atenta à onda de retorno para ver se descubro a deixa mais perfeita para a próxima palavra que, enquanto sentido, precisa ser coerente à expressão da máscara. Os palhaços me inspiram. Sempre me inspiraram. “Arranca a máscara da face Pierrot...para sorrir do amor que passou.” Venho brincado de criar e recriar máscaras para viver e ReViver meus amores.

A trapezista e a malabarista misturam as verdades nelas contidas expressando-as através de minhas mãos.
Uma dá coragem para lançar-me ao ar, confiando em seus poderes de agarrar o desejado, com o olhar fixado na partilha. Outra coloca meus pés em terra firme para melhor perceber sua capacidade de focar sem fixar o ponto de apoio. Existe também a equilibrista que me faz sentir o ar com os braços fazendo dos mesmos, ancoradouro para emoções intensas.

Quando surge a domadora...UI! Que medo me dá! Capaz de domar meus leões internos, às vezes me faz esquecer a cabeça dentro da boca de um deles e PUFF.... lá vou eu choramingar no colo da mágica clamando por uma nova cabeça para melhor aprender a como domesticar minhas feras.
Invariavelmente nestes momentos, surge a Mestra, que, sem a menor cerimônia me diz:”Assuma a responsabilidade pela sua falta de atenção e vá você reconstruir outra cabeça para por no lugar desta que você perdeu.”

Muito pior, no entanto, é quando a domadora resolve ensinar o leão a engolir a cabeça dos outros. Ai Ai Ai !!! Nestes momentos, só mesmo pedindo socorro ao Carequinha (que saudades de você, meu palhaço!) para suportar a dor sentida na essência.
O pior de tudo é que, na maioria das vezes, escolho a máscara inadequada e a incoerência piora a sensação de desequilíbrio. Sempre resta a ajuda da equilibrista que, quando nada consegue fazer, coloca-me nas mãos bolas coloridas distraindo meu olhar.

O fato é que seguindo os passos diários, onde Le Roi Soleil * criou o movimento que me iniciou na caminhada, atiro-me nos braços da arte de viver absorvendo cada amanhecer proveniente da Estrela Sol – La Reine- que, estimulando o giro da Terra, posiciona-me como sendo geocêntrica.

Sempre escuto uma voz ao longe que me diz: ”Senhoras e senhores o espetáculo continua!”
Se vai ter goiabada ou não o fato é que o palhaço é ladrão de mulher e a minha mulher deixa-se roubar por ele sem perder a esperança de um dia percorrer eternas estradas até o próximo amanhecer, mantendo as mãos unidas pelo amor.
Que seja através de uma dança ressonante onde todos os personagens da minha alma circense possam, unidos e harmonizados, conduzirem-me pelos vagalhões emocionais que sustentam a lona do meu Circo Pessoal
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(*) - Criador do Ballet Clássico

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