domingo, 27 de fevereiro de 2011

Uma Viagem em Busca do meu Umbigo



Moema Ameom

Niterói, 12 de abril de 1999, 9h.

Ouvidos emocionados!

Desde o retorno da Itália não me exercitava no quintal de minha casa, como sempre foi meu costume. Hoje a vontade reacendeu e fui sentir a manhã acariciar minha pele.
Ao fechar os olhos, meus ouvidos foram invadidos pelos mais variados sons. O canto dos pássaros parecia dar boas vindas. Cães ladravam narrando-me novidades. O vento sussurrava fatos passados brincando com as folhas das árvores. O calor morno do outono, acolhia-me ternamente. Senti a emoção escorrer in.mim preenchendo-me de prazer!

Re.lembrei os momentos em que buscava contato com a natureza lá em Vila Stampa, para meditar. Baliam os carneiros, mas os cães não latiam. Mal ouvia pássaros; pareciam poucos. A brisa não brincava com minha pele e o calor do sol, assim como o frio do vento, não penetravam em mim. Ficavam passeando em volta, fazendo um contato muito superficial. Sentia que por dentro ardia um forte calor selvagem bem contrastante os estímulos do exterior. A emoção sutil me permitia transpirar o prazer pessoal por estar ali, mas ficava a dificuldade de compartilhá-lo com a natureza que me rodeava. Era como se ela estivesse num tempo-espaço desconhecido que o meu corpo, pejado de medos, não conseguia penetrar.

Os gatos que me rodeavam, como os que tenho aqui, demonstravam seu afeto de maneira muito polia e discreta, bem diferentes dos meus, que se jogam aos meus pés, dançando um ballet onde a emoção, exageradamente, transborda pelos pelos.
Lá na Itália, fiz amizade com um lindo cachorrinho branco, que sempre corria para saudar-me, mas ao chegar perto, o máximo de expressão de alegria que saia de seu corpo era um rabinho cotó que balançava timidamente.
Para mim parecia tão pouco!.. Naquele momento relacionava o fato ao adestramento para não incomodar os hóspedes, mas agora sinto que aquilo era o máximo que ele podia me dar. Até podia parecer pouco, mas foi o bastante para alegrar meu coração. Porque então ficava com a sensação de que necessitava de mais? A emoção aumentou quando percebi a riqueza de poder sentir essas diferenças e aprender com elas.
Re. aprender sobre a vida sendo simples espectadora!

Lembro-me das perguntas que meus clientes e alunos fazem sobre “o que vem a ser emoção?” Como se houvesse uma apostila onde pudéssemos aprender sobre ela.
Seria necessário muitas apostilas reescritas a todo instante a fim de captar, em palavras, as múltiplas ondas neurais responsáveis por seus movimentos vitais. Existem pessoas que trazem os sentidos à flor da pele e não se consideram emotivas só porque não choram muito, não gritam e nem esbravejam; enquanto outras acham que, por chorarem muito esbanjam emoção.

Ontem aconteceu um dialogo entre eu e minha filha, onde vi seus sentimentos escorrendo delicada e translucidamente por todo seu corpo enquanto o mantinha firme e presente, expressando o poder de sua mente que, ao livrar-se dos fantasmas à medida que dialogava comigo, dava apoio a todo sistema reagrupando-o para seguir adiante. Fiquei imaginando que, se fosse meu filho, a voz sairia alta e forte como um trovão em dia de tempestade, estaria gesticulando muito e todo seu corpo vibraria e sacudiria para alcançar o equilíbrio final com a mesma grandiosidade mental da minha filha.
Domínios distintos dos medos internos. Dois sistemas diferentes (bem diferentes) com liberdade para demonstrar o que são e como são. Sem máscaras diante de mim. Isto porque as minhas estou aprendendo a tirar.

Imagine se há anos atrás, não tivesse dado ao meu filho espaço para seus choros e manhas dramáticas porque “homem não chora”. Como teria ficado seu Sistema? E se eu não quisesse aprender com os movimentos de minha filha, tão concentrada em suas intensas lágrimas, e tivesse interpretado isto como um sinal de comportamento estranho para uma menina? Se isto tivesse acontecido, será que poderia ter participado de momento de tão rara beleza ao seu lado?

Mas eu trazia muita confusão emocional dentro de mim e meus questionamentos sempre ficavam sem soluções.
Trazia? Vejo-os aqui in.mim mas, pelo menos hoje meus ouvidos abriram portais para novos aprendizados.Todo meu corpo agradece!


Texto revisitado extraído do livro “Uma Viagem em Busca do meu Umbigo” (pags.106/108), escrito por mim quando do meu retorno do Spiritual Inquiry® vivenciado na Vila Stampa -Pasignano sul Mare - Itália em 1999, sob orietação do Dr. Stèphano Sabetti e a equipe do Institute for Life Energy®. Com a intenção de compartilhar experiências com clientes e alunos, o livro foi publicado em edição independente, graças ao apoio de todos.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Olha o CiRcO aí, gente!




ReNata Batista


“Ô, raia o sol, suspende a Lua... Olha o palhaço no meio da rua”

O circo dialoga muito com o teatro de rua, que eu fiz durante algum tempo da minha vida, especificamente da minha adolescência.
A tradição dos saltimbancos, dos artistas mambembes, essa história de rodar muitos lugares, cidades, armar uma lona, atrair a multidão para aquele ritual de magia e arte... Sempre achei isso fascinante!

Quando eu cheguei ao Rio de Janeiro para morar, há 10 anos, lembro-me de ter vivenciado na Praça XV uma apresentação do Festival Anjos do Picadeiro, que reúne expressões circenses de diversas partes do mundo.
Ali, como simples espectadora, eu vislumbrei algo mágico: o encantamento que aquilo provocava em espectadores não habituados àquele universo.

Durante muito tempo eu pensei que aquele cara, rico ou pobre, que parou ali sisudo e riu um pouquinho, quando retomou o seu caminho, já não era mais o mesmo. A pressão das suas agruras pessoais, já não era mais a mesma.
Foi suavizada, e aquele coração ficou muito mais leve.Ano passado eu conheci o Núcleo Boa Praça, que reúne artistas em 2 praças da Tijuca, no Rio. Que lindo ver aquelas famílias reunidas em torno de um espetáculo que reúne palhaços, malabaristas, riso e graça!

Na rua o circo é bonito de ver, contaminando o cotidiano e a correria das pessoas... Mas nada se compara ao que acontece debaixo de uma lona!
Ah...........que lindo aquele universo paralelo da magia! Tudo é grandioso, belo, encantador!
Até o intervalo, estrategicamente providenciado para vender balas e algodão doce, era encantador quando eu era criança.

Hoje nem tanto, pelo menos nos circos que eu fui recentemente, parece que existe uma preguicinha de ser bom, de ser artista e se entregar àquele momento. Vai ver eu não escolhi a melhor opção.

O meu desejo pró-fundo é que o circo persista, na rua ou debaixo da lona, e a tradição mambembe das famílias se perpetue por mais alguns séculos... porque este espetáculo, definitivamente, não pode parar!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

CIRC(S)ENSE


Moema Ameom

Neste círculo vital que circula in. mim, sou circense.

De senso em senso, sem censo, faço-me mágica, palhaça, malabarista, equilibrista, domadora, trapezista, engolidora de fogo, mestra da minha própria cerimônia.

Quando palhaça, crio a máscara mais convincente possível; aquela que estimula gargalhadas e sustos, com o intuito de camuflar os medos e esconder a inquietação do momento.
Sempre me pergunto o que estão sentindo (os outros) quando olham para a maquiagem escolhida. Fico atenta à onda de retorno para ver se descubro a deixa mais perfeita para a próxima palavra que, enquanto sentido, precisa ser coerente à expressão da máscara. Os palhaços me inspiram. Sempre me inspiraram. “Arranca a máscara da face Pierrot...para sorrir do amor que passou.” Venho brincado de criar e recriar máscaras para viver e ReViver meus amores.

A trapezista e a malabarista misturam as verdades nelas contidas expressando-as através de minhas mãos.
Uma dá coragem para lançar-me ao ar, confiando em seus poderes de agarrar o desejado, com o olhar fixado na partilha. Outra coloca meus pés em terra firme para melhor perceber sua capacidade de focar sem fixar o ponto de apoio. Existe também a equilibrista que me faz sentir o ar com os braços fazendo dos mesmos, ancoradouro para emoções intensas.

Quando surge a domadora...UI! Que medo me dá! Capaz de domar meus leões internos, às vezes me faz esquecer a cabeça dentro da boca de um deles e PUFF.... lá vou eu choramingar no colo da mágica clamando por uma nova cabeça para melhor aprender a como domesticar minhas feras.
Invariavelmente nestes momentos, surge a Mestra, que, sem a menor cerimônia me diz:”Assuma a responsabilidade pela sua falta de atenção e vá você reconstruir outra cabeça para por no lugar desta que você perdeu.”

Muito pior, no entanto, é quando a domadora resolve ensinar o leão a engolir a cabeça dos outros. Ai Ai Ai !!! Nestes momentos, só mesmo pedindo socorro ao Carequinha (que saudades de você, meu palhaço!) para suportar a dor sentida na essência.
O pior de tudo é que, na maioria das vezes, escolho a máscara inadequada e a incoerência piora a sensação de desequilíbrio. Sempre resta a ajuda da equilibrista que, quando nada consegue fazer, coloca-me nas mãos bolas coloridas distraindo meu olhar.

O fato é que seguindo os passos diários, onde Le Roi Soleil * criou o movimento que me iniciou na caminhada, atiro-me nos braços da arte de viver absorvendo cada amanhecer proveniente da Estrela Sol – La Reine- que, estimulando o giro da Terra, posiciona-me como sendo geocêntrica.

Sempre escuto uma voz ao longe que me diz: ”Senhoras e senhores o espetáculo continua!”
Se vai ter goiabada ou não o fato é que o palhaço é ladrão de mulher e a minha mulher deixa-se roubar por ele sem perder a esperança de um dia percorrer eternas estradas até o próximo amanhecer, mantendo as mãos unidas pelo amor.
Que seja através de uma dança ressonante onde todos os personagens da minha alma circense possam, unidos e harmonizados, conduzirem-me pelos vagalhões emocionais que sustentam a lona do meu Circo Pessoal
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(*) - Criador do Ballet Clássico