Por
Moema Ameom
Quando eu possava falar através do coração, grunhia, gemia, rosnava,
ronronava, gargalhava, berrava, lambia, chupava, mordia e era chamada de bebê. Os
que me rodeavam traduziam meu som e o denominava voz. Quase sempre irritante,
por ser inquietante e misteriosa. Calavam-me, aquietavam-me porque, na maioria
das vezes, não entendiam meu idioma.
Mais tarde vieram as palavras e seus
conceitos. Era preciso aprender a língua pátria.
“Xê
ecó etá. Xaramã ni eçaí xê apiçá om Y kuá ni Ita amuara xá xê xaramã. Uquirimbau
y Perudá.”
Não é esta! É aquela que nos foi ensinada como
sendo a certa. Apesar de abrasileirada com nossa miscigenação, continuamos a
chamar-la de português. Além mar!...
Lá
atrás fomos educados, porque o que aqui fazíamos foi considerado falta de
educação. Olhar o céu, admirar o vento, sentir a chuva escorrendo pelo corpo
desnudo era promíscuo e pervertido. “Preguiçosos esses índios”...deviam dizer
nossos colonizadores amarrados, retidos, aprisionados em suas regras oriundas
do medo pela lobotomia.
Aprendemos
a chamá-los estrangeiros... o que é estranho gera medo. Medo de aprender o que
não conheço. Quando este medo surge, é mais fácil fazer o outro ficar igual a
nós ou perdermos a identidade, inconscientemente, copiando o que é aceito como
correto pela maioria.
Ensinaram-nos
a termos medo de errar. A chibata que o diga!
Hoje
falamos muito sobre educação. Eu me pergunto: “Qual delas?”
We
must learn...Va bene. Come?
Se
hoje eu fosse falar com a voz do coração (coisa comum de se pedir a todos)
continuaria a usar os mesmos sons de bebê. Reagiria, agiria com impulsos livres
e às vezes bem desarmônicos, fazendo ressonância com o Cosmo. Seria presa no
manicômio ou considerada pela sociedade como mal educada.
Se
fosse falar utilizando meus sons genéticos parlaria with all of sounds
toguether comment Il faut.
Quem
me compreenderia?
Alguém
com sensibilidade o suficiente para absorver minh`alma e seus arroubos.
Quem?
Pois é, minha neta. Nós devíamos falar “eu
podo”... daí “eu podia” ficaria mais coerente. Aliás o verbo é poder. Mas.... a
coerência vinda de longe nos ensinou que é “eu posso”. I can. We can.
Certa....Mente!
Eu
prefiro uquirimbau estar ao seu lado. Sempre!
11/12/2012
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