domingo, 22 de maio de 2011

METAFORAHH...!



Moema Ameom

“O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais” Carlos Drummond de Andrade

Como poderei passar minha vida, que tempo é, sendo uma cadeira? E quando as nuvens taparem o sol e chover? Deixarei de ser viva? Morrerei? Como farei para renascer no próximo dia de sol?

Sendo uma cadeira, porque ando sobre dois pés? Deveria andar de quatro. Os quadrúpedes são mais vivos que eu? Têm mais tempo?

Se eu sou uma cadeira, porque não consigo ser amiga de uma, assimilando sua sabedoria de simplesmente estar sem nada querer ser?

Muito bem. Vou começar a imaginar-me uma cadeira ao sol.
Quem deixarei que sente em mim? Como poderei fazer para não deixar que sentem aqueles que me desagradam; os que não sentem? Vou quebrar-me. Transformar-me em pedaços. Quem vai querer pedaços de uma cadeira? Talvez as formigas. São capazes de me levar para suas tocas. Se assim for, o tempo passará a ser um formigueiro. Grandão! Ou não. Depende da quantidade de mim que as formigas pegarem. Estando dentro do formigueiro poderei sentir sua luminosidade?

E se meus pedaços forem usados para fazer uma fogueira? As labaredas do fogo vão me fazer dançar e, certamente o farei à luz da lua; aquecerei enamorados.Vou servir para preparar iguarias saborosas e depois... sendo cinza ... adubarei a terra e alimentarei ...as formigas.

Bom saber que o tempo é uma cadeira, mas gostaria que seu lugar fosse à sombra. Ficar exposta ao sol todo o tempo, com esta baixa de oxigênio que permeia o planeta, vai me incandescer muito rápido;vou sufocar o tempo. Nãodançarei nem poderei alimentar minhas amigas.

Prefiro, sinceramente, ficar com o nada mais. Será o nada, lugar d’O Mais? Será este o lugar de depósito das cadeiras? Será que um dia muitos seres humanos, pelo menos visitarão “O Depósito”? Escreverão sobre suas visitas até que esta escrita transforme-se em literatura?

Poderá servir para um belo roteiro de cinema e TV? Quem irá personificar a cadeira?
Acredito que quando assim o for, eu já serei Xintz ...a fagulha curiosa de Lós!

O SER e o LER




ReNata Batista

“Um país se faz com homens e livros” Monteiro Lobato

Ler nos faz viajar... O contato com a literatura nos amplia os horizontes, não só pelo conteúdo do que lemos, mas pelo contato com as mais variadas formas de expressão.

E a leitura do nosso livro interior? Quem se dedica a ela? Quem olha para dentro de si buscando ler as próprias páginas escritas cotidianamente com gestos, sensações, sentimentos, emoções...? Quem lê as páginas que desagradam a fim de se conhecer e aprender e evoluir?

Valorizar o nosso próprio livro, a nossa escrita e a nossa leitura parece um gesto pouco usual hoje em dia. Lemos muito na cartilha dos outros, seguimos os regimentos alheios e dizemos amém ao conhecimento dos outros... Mas e o nosso?

Ler é um exercício incrível! Tanto mais precioso quanto mais formos capazes de nos colocarmos na rota da literatura que absorvemos de fora... Ah, quanta fonte de conhecimento podemos adquirir quando somamos estes dois mundos, exterior e interior!
Um país se faz com mais homens do que livros.

sábado, 7 de maio de 2011

MÃE


Moema Ameom

“Se esta rua fosse minha, eu mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhante para o meu amor passar.”

Se me fosse concedida por Deus a capacidade de fazer algo por alguém, este “alguém” certamente seriam meus filhos. Como bom seria se assim fosse! Iria lapidar cada pedrinha de seus caminhos colocando em suas mãos os tesouros já prontos para serem utilizados.

Seria bom? Não. Muito ruim, pois iria impedi-los de utilizar o que de mais belo há na existência: A EXPERIÊNCIA.

Receberiam brilhantes e não os reconheceriam. Não saberiam o que significa ganhá-los. Perderiam o paladar e a vida ficaria sem sabor. Certamente, ao invés de utilizá-los, iriam jogá-los fora por achar que eram pedras de cascalho.

Como então, auxiliar meus amores a caminhar sobre pedrinhas de brilhante? Permitindo que recolham pedregulhos, todo o tipo de quinquilharias encontradas pelo caminho, acreditando e valorizando a criatividade interna - capacidade de transformá-los em pedras preciosas.
Fazendo-os reconhecer o ourives que existe em seus mundos viscerais. Orientando a lapidação com a visão reColhida e utilizada durante minha jornada pessoal. Auxiliando no engrandecimento da conscientização das ações e reações provenientes dos desapontamentos inerentes ao risco.

Sendo assim, descubro que o sinônimo mais adequado para Mãe deve ser Amiga.

Existe algo melhor do que um (a) amigo (a) como companheiro (a) de aventuras?
Algo mais valioso na construção de uma vida do que a certeza de ter amigos? Seres humanos em quem podemos confiar a qualquer momento, sabendo que estarão ao nosso lado para o que “der e vier”? Aqueles que nos compreende por saber compartilhar nossas dificuldades?Amigos são verdadeiros anjos que nos estendem as mãos quando precisamos de ajuda. Qual a maior e melhor qualidade de um(a) amigo(a)?
A VERDADE.

Será um bom amigo aquele que lhe diz algo agindo de forma contrária quando você se distancia? Que lhe sorri desejando lhe xingar? Que concorda querendo discordar só pra ser considerado “bonzinho” por você ? Ou discorda por medo da concordância?

Será boa amiga aquela que se faz passar por companheira sem o ser, a fim de destruir sua confiança? Será bom amigo aquele que lhe diz o que fazer, minimizando sua capacidade de escolha e discernimento? Aquele que sinaliza o caminho antes mesmo de você resolver caminhar? Aquela que, ao lhe estender a mão, coloca condições para lhe dar apoio?

Será boa amiga aquela que só fica “de bem” quando suas atitudes lhe agradam? Será bom amigo quem lhe conduz para caminhos onde sua capacidade de realização será enfraquecida, só para sentir-se importante?

Como fica a amizade se adubada com atitudes de arrogância, prepotência, inveja e ciúme? Acredito que, quando extraímos a palavra mãe e colocamos amiga fica mais fácil de discernir a qualidade da convivência.

O mesmo pode ser feito com outros rótulos criados pela sociedade: pai, marido, esposa, irmão (ã), professor, empregado, patrão, colega e muitos outros. Rótulos que, na grande maioria das vezes, enforcam o humano dos seres.

Se todas nós, mães, pudéssemos aprender a ser amigas cultivando, na relação do cotidiano, a essência da verdade dos sentimentos, amealhados nos processos da troca de experiências, certamente poderíamos caminhar lado a lado com nossos filhos aprendendo com eles a nos transformar em companheiras de trabalho. Labuta pelas conquistas de uma existência comum.

Como é prazeroso fazer parte da mesma fábrica de ilusão, viver as imagens dos sonhos sem querer sonhá-los, construir processos de solidariedade e fraternidade durante o transcorrer do dia a dia!

SIM, porque, o amigo real é aquele que se irmana com nossos ideais construindo maneiras diferentes de utilizar o aprendizado assimilado. Nada mais insípido do que uma comida sem sal; insuportável fica a comida salgada. O ponto do equilíbrio de uma relação passa pela capacidade de reconhecer o valor do sal e do doce – (+) (-) - a fim de que possamos dosá-los a contento. Para agradar a quem? A ambos. Quem cozinha e quem come.

Sendo assim, neste Dia das Mães, desejo para mim e todas as companheiras, um novo tempo de reflexão sobre valores maternos e seus caminhos empedrados.

Um momento para assimilar a importância desta palavra-rótulo que, quando balbuciada com eco, dá ao Ser a possibilidade de melhor respirar; assim como a vírgula, que aera a escrita de um texto.

Que possam ser reavaliados partindo do princípio que, para ser mãe não precisa parir.
Basta ser MULHER!

Cuiabá, 7/5/2011