sexta-feira, 22 de abril de 2011

PAIXÃO



Moema Ameom

A paixão conduz ao drama existencial. Faz crescer a insanidade, joga-nos nos mares caudalosos das dúvidas, desequilibra o estado de tensão estressando a matéria; nubla a consciência criando monstros no inconsciente, recria conceitos sem base na verdade pessoal, enfim, dá à vida o peso de uma cruz, fazendo acreditar que é preciso carregá-la a fim de construir o calvário. As conquistas ficam apoiadas apenas na capacidade de superá-lo ou suplantá-lo – princípio sado masoquista-.

A paixão esconde o prazer colocando-o no fogo do inferno, onde o ato de procriar inibe o valor da criação proporcionando, assim, à criatura, um estado de pecado original.

A paixão assola as mentes manipulando a razão a fim de minimizar a capacidade de posicionamentos reais. Desfoca a ação com o intuito de enfraquecer o objetivo.

A paixão impede o fluxo do ar, tornando o instrumento sonoro denominado Corpo Humano, dissonante, desafinado e totalmente dependente do movimento que ela gera. Ensina apenas o ato de inspirar enfatizando o esquecimento da capacidade de expirar, uma vez que a mesma significa perder.

Quem aceita perder quando em estado de paixão?
Quem se permite ganhar algo novo quando em estado de paixão?
Quem se entrega às ondas emocionais que a vida proporciona, extraindo das mesmas aprendizados importantes para a renovação da consciência, estando apaixonadamente entregue a uma idéia, ideal, pensamento ou conceito?

Mirando-nos no espelho interno, onde a energia medular faz vibrar a conscientização dos movimentos vitais através dos focos de (a)ten(ç)são, onde enxergamos nossa paixão do momento? Somos capazes de enxergá-la?

Encará-la de frente ajuda e muito a alcançar o amor; aquele próprio ou impróprio, que na quietude do dia a dia teima em nos manter vivos, apesar do desejo de sobre.vivência inerente a quem não se ama por não encontrar o caminho do equilíbrio emocional.

Sem dramas, a vida fica leve, fluídica, simples e extremamente criativa, transformando o ser humano em criação divina, capaz de utilizar a potência de seus aparelhos para ReCriar uma nova melodia a cada instante, tornando-a ressonante com a intensidade harmônica do Universo.

Cuiabá, 22 de abril de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Cantar, viver



ReNata Batista

Canta que é no canto que eu vou chegar, Canta o teu encanto que é pra me encantar, Canta para mim qualquer coisa assim sobre você... *

O canto é uma expressão pessoal.
Ele fala muito sobre nós e como nos sentimos em dado momento. Tanto pela música que escolhemos quanto pela qualidade vocal, ele é um termômetro. E não é privilégio para poucos, não. Todos nós temos direito a soltar a voz.

Quando eu era criança, meu irmão caçula não perdia a oportunidade de me dizer, ao meu ouvir cantar: “Se você gosta mesmo desta música, não a estrague cantando assim!”.
Claro que é frustrante, e que isso me inibiu um pouco. Mas eu sempre cantei.
Cantar é uma expressão importante para todo ser humano.

A voz é um grande espelho do nosso estado interior, e os desafinados também tem um coração, como cantou o João Gilberto. É muito comum falarmos em cantar no banheiro. A acústica proporcionada pelos azulejos e a angulação de 90graus da parede geram um ambiente especial par a os mais variados (e duvidosos) gostos e talentos.

Seja como for, independente do talento e aptidão para uma carreira promissora, é essencial que todo ser humano exercite a sua voz e ouvidos para deixar sair aquela vontade de falar com o mundo.

Cantar é mágico! Nem que seja só no chuveiro, cante ou cantarole pelo menos uma vez por dia.


* Trecho da música “Casa pré-fabricada”, de Marcelo Camelo [Los Hermanos in Bloco do Eu Sozinho

terça-feira, 12 de abril de 2011

SOBRE EDUCAÇÃO


Moema Ameom

Nos idos de 1943, Maria Montessori escreveu um livro intitulado A Criança. Desde então idéias educacionais evoluídas vêm permeando o Planeta.

“ O problema social da infância penetra com suas raízes na vida interior, chega até nós, adultos, para despertar a nossa consciência e renover-nos. (...) O bem e o mal do homem na idade madura está estreitamente ligado à vida infantil em que teve origem. Sobre as crianças recairão todos os nossos erros, que sobre elas terão indelével repercussão.” Pag.13

Jean Piaget (1896/ 1980) deixou em seu método a idéia de que: “A construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação ou, acomodação e assimilação dessas ações e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento. Em outras palavras, uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação e após, uma assimilação e o equilíbrio é, então, alcançado.” http://penta.ufrgs.br/~marcia/piaget.htm.

Rudolf Steiner, criador do método Waldorf, em palestra ministrada em 20/4/1923 diz: “Não há, basicamente, em nenhum nível, uma educação que não seja a auto-educação. [...] Toda educação é auto-educação e nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o ambiente da criança educando-se a si própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança eduque-se junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.” http://www.sab.org.br/pedag-wal/pedag.htm

Há quanto tempo vêm sendo difundidas teorias assim? O que foi feito com elas?
São válidas até onde? O que se faz com elas? COMO são colocadas em prática? De que maneira trabalham-se os conceitos grifados acima?

Se me fosse concedido espaço para orientações na área da educação, sinalizaria e pontuaria o foco na ATENÇÃO.
Não àquela voltada aos conceitos teóricos, mas sim a que acompanha o olhar revertido para a observação de atos e ações do cotidiano extraindo da mesma, fonte consistente de aprendizado individual.
Falaria da necessidade da (in)satisfação como sendo o núcleo da permanência no fluxo e refluxo do eterno aprender a aprender de onde vem a vontade de se manter (in)ativo. E deixaria registrada a valiosíssima importância do exemplo como parte mais consistente da educação.

Por fim (ou começo) deixaria registrada a idéia de que, quem ensina nada faz, nada quer e nem mesmo é algo ou alguma coisa para alguém. Apenas existe e assim sendo, formula ondas vibratórias de existência. Nelas compõem-se as fórmulas de orientação que apenas serão válidas se forem desconceituadas a cada expiração abrindo espaço para a renovação permanente de idéias.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Cantabile (*)


Moema Ameom

“Tudo, nesta vida, é muito cantável.” João Guimarães Rosa

Canto o desencanto neste recanto do canto da minha existência. O desencanto da in.competência, da in.segurança, da in.operância e in.tolerância. Canto os “in” para suplantá-los, transformando o som da minha voz em vibrações de encantamento pelas belezas que a vida me proporciona.

Canto sem querer espantar os males do corpo, mantendo, assim, a alma afinada ao coro universal. Espantá-los para que? Manter- me encantada sem estar? De que vale o canto do meu canto sem o compromisso com a minha verdade?

Músicos desrespeitados pela visão dos que não conhecem o valor da cultura musical na evolução do sentido de humanidade. Como decantar a barbaridade que assola nossa Orquestra Sinfônica Brasileira - OSB? Qual o interesse real pelo fato? O que significa, na educação das mentes humanas, uma Orquestra Sinfônica? A voz de minh’alma emudece e meu canto cala fundo no peito, ao perceber a desvalorização de algo tão importante para a estruturação de um futuro mais sinfônico, onde haja espaço para almas ressilientes sem que as mesmas precisem se esforçar para cantar.

Crianças assassinadas enquanto estudam, sinalizando a cópia de uma cultura distante.

A imprensa nacional cumpre muito bem a função de enaltecer fatos.
Invadem lares intensificando o pânico pela vida. Sabem como fazer para moldar mentes. Vale a pena lembrar que a psicopatia é criada através de sons e imagens. É o canto doentio da alma aprisionada. Sendo assim, não será este um dos caminhos para se emanar vibrações sonoras distorcidas, formando preconceitos que inflexibilizam a razão?

Enaltecer o drama mantém o aparelho respiratório intumescido. Sem ar não há raciocínio que possa se desenvolver. O sufoco causado faz ampliar demasiadamente as ondas emocionais, propiciando maior e melhor manipulação das consciências. Com que intenção? Formar coerência com os movimentos vitais das placas tectônicas da Terra que as doenças mentais teimam em destruir com suas guerras? Estimular a ignorância para distanciar o simples? Construir uma sociedade antimusical?

Reconhecendo o valor do som emanado pelas palavras, porque não fazer uso delas para difundir assuntos que alimentem os espíritos com idéias construtivas? Porque fazer das linhas escritas e lidas, partituras que fazem soar estímulos da rede de medo, ao invés de apenas in.formar?

Toda informação deve permear os fatos sem que nos mesmos venha contida a interpretação de quem os narra. Interpretar é um dos caminhos utilizados para direcionar os sentidos. Os artistas conhecem esta técnica.

Educar é: sinalizar o caminho sem dizer como segui-lo; oferecer múltiplas visões de um só fato a fim de desmistificar os conceitos, abrindo espaço para a criação individual dos mesmos; ampliar o campo do conhecimento colocando num só espaço várias opções de escolha.

Em uma Orquestra Sinfônica, muitos sons se agrupam exemplificando o valor da união, da solidariedade e da ressonância harmônica.
Crianças também morrem por falta de cultura. Seus ouvidos necessitam de sons educativos para transformarem seus cérebros em celeiros de sensibilidade. Crianças precisam do canto de suas almas para desenvolver suas matérias de forma coerente com suas ondas sensitivas.

“Quem canta seus males espanta”. Como fazer para espantar os males sem aprender a cantar a vida? Sem expandir a capacidade auditiva para além dos estampidos de tiros, bombardeios e agressões sonoras que desrespeitam os limites?

Eu canto o desencanto encantando-me com o sorriso de minha neta. A melodia de seu riso não me permite esquecer o mundo que estamos construindo por exacerbarmos os dramas ao invés de saná-los com atitudes mais compromissadas com a verdade.

(*) o título é uma homenagem á Cristina Martinelli que sabe como en.cantar com sua arte.